
Depois de muita pesquisa sobre o trajeto, vídeos e
mapeamento nos prepararam para o trekking, que até então seria o mais longo e
desafiador que já havíamos feito, visto que nossa maior distância até então era
de 16km de Igrejinha/RS até o templo budista de Três Coroas/RS. A data foi
escolhida, foi o feriado de carnaval de 2017, onde pretendíamos em três dias
percorrer, de forma tranquila e sem exorbitante esforço a referida travessia.
(como fomos ingênuos na parte de tranquila e sem esforço...rs)
Os parceiros de travessia, como na maioria dos
projetos foram minha namorada, Carine Arnold e meu grande amigo e parceiro de
loucuras, o recém ordenado Padre Leandro Scherer, que havia conseguido com um
conhecido um contato na cidade de muçum, que se dispusera a nos levar até o
início da trilha e buscar no final dela. No sítio desse senhor também deixamos
nosso carro, assim que chegamos na cidade de muçum.
Levamos equipamentos para camping selvagem, visto
que tínhamos em mente aproveitar ao máximo essa experiência de conexão com o
passado e natureza. Minha mochila foi a parceira de todas as horas, Náutika
Intruder 45L, Carine estava com sua Quechua respirável e o Padre estava
estreando a sua Quechua Forclaz 50L, que atualmente também é a mochila que uso
em minhas travessias. Dois fogareiros a álcool, utensílios de cozinha, comida
para três dias, barraca (para Carine e eu) e uma rede (o padre não gosta muito
de dormir em barracas...haha).
Eu (Marlon Tegner), minha namorada (Carine Arnold) e Padre (Leandro Scherer)
Sábado, 25/02/2017. (Primeiro dia de Travessia)
Saímos próximo ao meio dia de Igrejinha/RS em
direção a Muçum/RS, cidade que escolhemos para iniciar o trekking. No caminho,
aproveitamos muito a paisagem, visto que fomos por uma rota repleta de vinícolas
e plantações de uva na região de Garibaldi/RS e Bento Gonçalves/RS, passamos
por diversas tendas e pelas margens do imponente rio Taquari. Chegamos a cidade
já na parte da tarde, deixamos nosso carro na casa dos nossos novos amigos e
fomos deixados por eles junto aos trilhos do trem, próximo a ponte que dá
acesso a cidade. Era em torno das 17h em pleno horário de verão, então sabíamos
que ainda tínhamos umas 2h de luz do sol para andarmos alguns quilômetros e
encontrar algum lugar para montar acampamento e começar a preparar o jantar. No
estudo da região, vi pelos mapas que o rio Guaporé acompanhava a ferrovia
durante todo o trajeto, de Muçum até Guaporé, logo, seria fácil achar um local
para montar acampamento e pegar água as margens do rio. Triste engano... Vocês
logo vão entender por que. Haha
Entrada da cidade de Muçum/RS
Depois de alguns quilômetros andados, chegamos a uma
antiga estação abandonada do trem que mais parecia cenário de um filme de
terror. Paredes pichadas, lixo espalhado por todos os lados, latas, plásticos
de preservativos e restos de fogueira. Tiramos algumas fotos e seguimos, visto
que logo escureceria e ficar ali naquele lugar sinistro não era uma opção. Haha.
Após mais alguns quilômetros sobre os trilhos velhos e irregulares, e já
sentindo as britas enormes machucando as solas dos pés, quando pisávamos fora
dos dormentes de madeira, começando a sofrer também pelo peso das mochilas, de
13kg a 18kg que carregávamos, percebi o grande erro de planejamento que cometi,
assim que chegamos a uma clareira e tivemos a primeira vista da região. De Muçum
a Guaporé, os trilhos seguem um caminho em elevação, subindo a serra, e mesmo
nos mapas o rio parecer estar ao lado da ferrovia, na “vida real” estava
realmente ao lado, porém, com um desnível de uns 30 a 50 metros. A ferrovia
seguia em cima do morro, sempre subindo, e o rio estava longe, lááááá embaixo...
Que tristeza nos deu! Kkk
Estação abandonada
Seguindo em frente, tentando encontrar um acesso
para o rio, cansados, não encontrávamos opção alguma de local para armar
acampamento às margens dos trilhos, visto que eram muitas e muitas pedras e
mata fechada impenetrável do lado direito dos trilhos. Do lado esquerdo, um
barranco cheio de pedras enormes e também mata fechada, bastante perigoso de
adentrar. Nessa altura, já era passado das 20h e estava quase escuro, nos
forçando a ligar as lanternas. Já muito cansados e com fome, decidimos arriscar
e tentar descer pela grande saliência de pedras soltas e tentar chegar a margem
do rio para montar acampamento. Ligamos as lanternas reservas e em fila indiana
começamos a descer. Estava muito calor, úmido e havia muitas pedras
começando a se soltar, então a descida precisava ser muito atenta e devagar. Em
meio às pedras, muitas aranhas armadeiras corriam e causavam um pouco de medo,
pois naquela altura, ser picado por um inseto seria desastroso!
Depois de uns
20 min de descida com muita cautela, nos vimos em meio a uma plantação de
milho, e ao longe avistamos uma casa com as luzes acesas, cachorros latindo e
um morado nos acompanhando com o olhar desconfiado ao longe. Resolvemos gritar
e nos identificar, para evitar quaisquer tipo de problemas, como ser baleado
pelo dono da propriedade. Haha. Subi em uma pequena elevação em meio ao milho e
gritei: “boa noite! Estamos fazendo a travessia pela ferrovia, mas nos perdemos
e estamos tentando chegar ao rio.” Ele então gritou de volta mandando seguirmos
reto que chegaríamos a uma estrada, e o fizemos, chegando a estrada que corria
em paralelo ao rio. Era por volta de 21h, estávamos muito cansados, com fome e
quase sem água. Pela estrada, andamos mais uns 2km e avistamos um grande potreiro
que terminava no rio, protegido por uma cerca baixa e um pouco deteriorada. Não
pensamos duas vezes: pulamos a cerca e caminhamos em direção ao rio. Largamos as
mochilas ao lado de um pequeno barranco que nos “escondia” um pouco de quem
passava ao longe na estrada e dividimos as tarefas. Enquanto eu montava o
acampamento, Carine buscou água no rio e começou a ferver para preparar o
jantar. O padre foi procurar lenha para a fogueira, e logo estávamos sentados,
descansando e jantando o melhor macarrão miojo que um mochileiro poderia comer!
Hahaha.
Não havia lugar para prender a rede, então o padre
optou por usar ela como cobertura tendo nossa barraca e um pequeno arbusto como
base de uma “toca” improvisada. Muito roots esse rapaz! Haha. Terminamos o
primeiro dia com a sensação de ter andado 100km de tão cansados, mas também com
muita ansiedade em relação ao restante da travessia, sobretudo em relação aos
viadutos e túneis que n
Acampamento do primeiro dia as margens do rio Guaporé