quinta-feira, 27 de julho de 2017

Cânion Fortaleza: trekking, liberdade e aventura em Cambará do Sul


Cambará do Sul, município gaúcho com pouco mais de 6 mil habitantes, abriga os mais imponentes cânions do sul do Brasil, presenteando com uma beleza estonteante os visitantes de todas as partes do país e do mundo que os visitam anualmente. Desde bem pequeno, tinha o desejo de conhecer essas obras de arte da mãe natureza, que tanto atraía turistas para o estado mais ao sul do Brasil, e foi após assistir a uma excelente reportagem no Jornal do Almoço (RBS TV) sobre as belezas do Parque Nacional da Serra Geral, que decidi que era chegada minha vez.

No último domingo de junho de 2016, passados dois dias do aniversário da minha namorada Carine, resolvi que iríamos comemorar, fazendo pela primeira vez um Trekking no respectivo parque. Pesquisei muito durante a semana algumas dicas de como chegar ao parque, qual o melhor horário e também sobre as trilhas que faríamos, já que pretendia fazer tudo sem guia. Optei em focar o dia no Cânion Fortaleza e em duas trilhas que eram próximas ao mesmo, a da Cachoeira do Tigre Preto e a trilha da Pedra do Segredo, muito indicadas em fóruns de mochileiros.  Chegado o respectivo dia, saímos pontualmente as 5:30h da manhã de Igrejinha, ansiosos pelo dia que nos esperava e muito abastecidos de água, comidas leves e muitos casacos de inverno!

Cânion Fortaleza 

Ao chegarmos ao pequeno centro de Cambará, parecia que éramos os únicos seres humanos a estar de pé ás 7h da manhã naquele domingo de inverno. Galos cantavam ao fundo, o sol nascia no horizonte e nós, por uns 15 minutos, ficamos inertes com o carro estacionado em frente a um campo de futebol, na rua de entrada da cidade apreciando uma deliciosa caneca de chá de camomila quente.  De volta à estrada, dirigi por alguns quilômetros por uma estrada asfaltada repleta de placas alertando para que se tivesse cuidado com animais nativos e desviando de alguns buracos e imperfeições na pista, que antecipavam o calvário que estava por vir. Ao final do asfalto, chegamos à pior parte do trajeto: pouco mais de 3km de estrada de pedra. (sim, pedra, pois chamar de estrada de chão batido é um grande eufemismo para o acesso de ligação ao parque). Após quilômetros percorridos na velocidade máxima de 10km/h, que faziam-me ter pena da minha pobre Fiat Strada, chegamos a porteira de acesso, onde encontramos um pequeno banheiro e uma casinha simples, lugar em que provavelmente o responsável pela manutenção do parque ficava. Paramos ali por alguns minutos para usar o banheiro e logo continuamos na estradinha por mais alguns minutos.
Chegamos ao estacionamento as 8:15h e tínhamos aquela imensidão só pra nós. Senti uma sensação estranha de liberdade que não recordava ter sentido em outra ocasião.

Somente nosso carro, nossas canecas de chá fumegante e um imenso silêncio...

     Estacionamento

Postas nossas mochilas nas costas com quitutes, água em quantidade abundante, isotônicos, toalhas, mais comida, mais uma térmica de chá, muitos casacos e até pares de meias extras, e nos colocamos em marcha rumo a bordado cânion. (lembrando que o excesso de bagagem foi em função de estar fazendo meu primeiro trekking, em um lugar que nunca havia estado e sem guia, logo, tentei usar dicas até de gente que subiu o Everest pra estar preparado pra tudo...)
Ps:. Isso que esqueci meu spray anti-urso em casa, se não, era mais peso na mochila...haha
Poucos metros após o estacionamento e chegamos à borda do cânion. Confesso que foi um misto de medo, adrenalina e fascinação ao ver aquelas imensas crateras de mais de 2km se abrindo em direção ao horizonte e com visibilidade total, já que não havia nenhuma neblina no dia. O cenário que já inspirou novelas e documentários realmente é incrível! Tiradas algumas fotos, em que eu não conseguia chegar nem a 5 metros da borda pelo medo de altura, começamos a caminhada indo no sentido oposto ao mirante do cânion. Andamos mais de dois quilômetros, e logo começamos a avistar diversos ônibus e carros de turistas que começavam a chegar para a visitação dominical.


Cratera Cânion Fortaleza

Era próximo das 11h quando começamos a subida da trilha do mirante, que do estacionamento ao cume, leva cerca de 35min, de uma subida razoavelmente tranqüila. No topo do mirante, conseguimos ter uma visão de quase 100% do cânion, tornando a experiência ainda mais fantástica. Ao longe, avista-se o mar, algumas lagoas e também a cidade litorânea de Torres-RS.


Cânion Fortaleza

De volta ao estacionamento, nos dirigimos ao ponto de entrada para a trilha que levava a Cachoeira do Tigre Preto e a Pedra do Segredo. O início dessa trilha fica a mais ou menos no meio do caminho, entre o estacionamento do parque e a porteira de entrada, onde há um recuo para que possam ser estacionados carros e uma pequena placa indicativa.
Iniciada a trilha, anda-se em torno de 10 minutos até se chegar ao riacho que forma as quedas d água da cachoeira. Atravessamos o riacho sem nos molhar para a outra margem, próxima a borda da cachoeira, devido a pouca vazão de água no dia. Logo ao chegar à outra margem, já conseguimos ver a cachoeira com duas enormes quedas e tirar algumas fotos bem próximos a elas. Andando mais um pouco, chegamos a um mirante, onde conseguimos ver de forma privilegiada as quedas, que lembram às garras de um felino formando a cachoeira.

Cachoeira do Tigre Preto

Turistas passando sobre a Cachoeira do Tigre Preto

Não longe dali, chegamos ao mirante da Pedra do Segredo, uma enorme pedra que pesa toneladas e misteriosamente está equilibrada em cima de outra rocha em apenas 50cm de base de apoio entre elas. (confesso que não achei grande coisa...haha).  Nesse ponto, encontramos um bom lugar onde pudemos apreciar a vista de parte do cânion, e preparamos nosso almoço, pois já eram 13:45h da tarde. Dois Cup Noodles de legumes e algumas bananas. (valeu a pena ter levado uma térmica de água fervendo também...haha).

Pedra do Segredo

Pelas 15h, retornamos ao estacionamento e iniciamos o caminho de volta. Paramos uma última vez em frente à Igreja que fica no centro, e sentamos um pouco na praça deserta da cidade, que parecia funcionar em um ritmo diferente das que estamos acostumados na região metropolitana. Um ritmo sem pressa, contemplativo e interiorano, de uma forma que me fez ter muita inveja dos 6 mil habitantes que vivem diariamente ali...





Passagem acima da Cachoeira do Tigre Preto