quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

Diário de Mochila - 2° dia Mochilão rumo ao Paraguai


Diário de Mochila
Quarta-Feira, 23 de novembro de 2016 – 2° Dia 

Deus age de formas misteriosas...
(15h)

Tive uma excelente noite de sono no motel, acordei pelas 8h, comi um sanduíche de queijo que havia feito na tarde anterior e levado na mochila, me despedi do Igor e caí na estrada, em direção a BR-101, de onde pretendia pegar uma carona. O caminho até a BR não é longo, trajeto de poucos KM, onde pela primeira vez pude sentir o peso da minha mochila nas costas, e sinceramente, está muito pesada! 
Em torno de 8km, que esmagaram meus ombros nesse curto trajeto. Ao ir me aproximando de um posto de gasolina as margens da rodovia, avistei uma placa que indicava o ponto turístico “Morro da Borussia”, lugar muito conhecido na região e que eu nunca havia visitado. Decidi, por impulso, ir conhecer. Estava cansado, mas ainda era cedo e eu não tinha pressa e nem hora marcada para nada. Foi a primeira vez na viagem, que senti o sabor incrível da verdadeira liberdade!


Do motel até o mirante do morro, caminhei (pelas minhas contas) em torno de uns 10km. Cheguei ao mirante, quase desmaiando, com muita sede, por ter levado e já tomado duas garrafas de água de 500ml. O peso da mochila beirava o insuportável, já que eu nunca havia carregado tanto peso, e a caminhada até o mirante foi muito íngreme e desgastante. (Minha vontade foi de me deitar no chão e passar o resto do dia jogado ali...)


No mirante, fiz amizade com o vigia, João Milton, um rapaz simpático pra caramba que me indicou onde encher as garrafas de água e me fez várias perguntas sobre a trip. Valeu muito a pena o sofrimento quando vi a vista lá de cima, onde em mais de 180°, é possível avistar diversas lagoas, o oceano atlântico, as cidades de Osório, Tramandaí, Imbé, além da vista incrível da grande usina eólica que fica na região.


O trajeto de volta ás margens da BR-101, foi tão desgastante quanto o de subida, e nos últimos metros, já ao ter avistado o posto de combustíveis que fica ali, tive o primeiro perrengue da viagem. Meu estômago começou a acusar que algo não estava bem, e urgentemente, precisei de um banheiro. Praticamente corri até o posto, e avistei o banheiro, que parecia um oásis em meio ao deserto. Ao entrar, apressado no banheiro, com a mochila gigante nas costas, mirei numa cabine vazia e adentrei a toda velocidade, pois já estavam saindo lágrimas de sofrimento dos meus olhos. Eis, que minha mochila, por ter a barraca e saco de dormir amarrada por fora, trava na porta e me faz cair um baita tombo em meio a respingos de urina, sujeira e umas manchas questionáveis... A situação que já estava péssima piorou, pois ao levantar, descobri que não iria caber eu e a minha mochila abalhotada de coisas juntos dentro do banheiro, sem que eu desamarrasse o que estava preso por fora dela, (o que não era uma opção, dada a situação de emergência. Não podendo mais aguentar, decidi perder o resto da minha dignidade; deixei a mochila pro lado de fora da cabine, baixei as calças e aliviei o que me martirizava, com a porta aberta, com um olho na mochila, e o outro nas pessoas que entravam no banheiro e me julgava com olhares reprovadores... nesse momento, descobri que viajar como mochileiro poderia me dar muitas realizações, mas glória não seria uma delas. Naquele momento, minha mente me dizia pra voltar imediatamente pro conforto da minha casa, mas algo dentro de mim, não me deixou desistir.
Saindo do banheiro, fui até um dos frentistas do posto e perguntei se ali era fácil de conseguir uma carona para Torres-RS, e tive uma assertiva como resposta. O rapaz me indicou, falar com um caminhoneiro que havia estacionado a pouco no posto, e tinha placas de Três Cachoeiras/RS no caminhão. 40 minutos depois de ter chegado ao posto, consegui minha segunda carona da viagem, e parti em direção a Terra de Areia/RS, cidade vizinha de Três Cachoeiras, cidade em que meu irmão Caio mora. Sandro Pereira era o nome do motorista que me levou, em uma viagem de menos de 1h em que conversamos sobre tudo! Ele conhecia meu irmão, que é gerente em uma filial das lojas Lebes, e me deu dicas valiosas sobre a estrada e formas de conseguir carona. Sandro me deixou na rodoviária de Areias Brancas, e gentilmente me pagou uma passagem até Três Cachoeiras, aonde cheguei pelas 14:00h e fiz uma visita surpresa pra minha cunhada Juliana e pras minhas sobrinhas, Leticia e Larissa. (Machuquei o joelho quando cheguei à rodoviária, pois ao descer do caminhão, prendi meu pé na alça da mochila e caí um tombo da escada do caminhão... será que é o destino mandando eu voltar pra casa? Rsrs)


Minha cunhada preparou um almoço especialmente pra mim, e comi como se não houvesse amanhã, tamanho o cansaço que me encontrava. Após o almoço, decidi voltar pro ponto de ônibus e seguir viagem até Torres, que era cidade vizinha já.


 (23:37h)


Ao chegar a Torres/RS, fui da rodoviária direto pra região que ficava um camping super barato, o qual eu havia visto o endereço na internet. Para minha surpresa, ao chegar ao endereço, já após ás 17h, descobri que o respectivo camping havia encerrado as atividades a anos...
Não sabendo muito bem como agir, pois não havia pensado em um “plano B”, comecei a andar em direção a praia, cogitando a hipótese de acampar pela areia. Visitei o Morro do Farol, ponto turístico da cidade, e lá, um vendedor me informou haver um camping próximo à ponte do rio Mampituba, que ficava do outro lado da cidade.


Comecei minha jornada em direção a ponte, sentindo a cada passo todo o peso da mochila esmagar meus ombros, e já perto dás 18:30h, horário de verão, passei na esquina de uma Igreja Católica, no momento em que o sino soava anunciando a proximidade da missa. Mesmo precisando achar um lugar pra ficar, e com a noite se aproximando, involuntariamente me dirigi a Igreja, sentei num dos últimos bancos e coloquei minha mochila enorme a meu lado. Ao mesmo tempo em que senti o alívio do peso tirado das costas e “folga” dada aos joelhos, me senti envergonhado por ter chamado a atenção com meu jeito de forasteiro e pela mochila em nada discreta...
Ao término da missa, fiquei um minuto sentado no banco, criei coragem e me dirigi ao padre que celebrara, e o contei sobre minha viagem, de forma clara e objetiva, e, enquanto éramos rodeados por alguns fiéis, pedi com humildade, se poderia montar minha barraca dentro do pátio da Igreja para passar a noite, já que o mesmo era cercado e me daria certa sensação de segurança. O padre pareceu ficar desconfortável com o pedido, e senti que não teria outra escolha senão dormir na rua...
Nesse momento, em que o sacerdote me olhava com olhar apreensivo/curioso, um casal que acompanhava o diálogo perguntou meu nome, e se prontificou a me deixar passar a noite na casa deles. Gerásio e Teresinha tinham uma grande casa em um terreno no qual eram dispostos vários apartamentos de aluguel, e num desses que me acomodaram para passar a noite. Foi uma atitude incrível e muito bondosa a deles, e realmente me acolheram como um amigo de longa data! Após um banho merecido, e a constatação de que meus ombros estavam inchados e muito machucados pelo peso da mochila, fui até a casa do casal para agradecer novamente a hospitalidade, e os dois, não me deixaram voltar ao apartamento sem sentar a mesa e jantar com eles. No jantar, descobri que Gerásio é um grande aventureiro também e adora viajar, porém, Teresinha era mais caseira, e gostava do conforto do lar e companhia dos filhos. Foi uma noite muito boa, em que percebi que Deus age de formas misteriosas, pois se não tivesse mudado de ideia repentinamente e entrado na Igreja, não teria conseguido hospitalidade, alimento e segurança pra passar minha segunda noite na estrada...







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