terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

Diário de Mochila - 3° dia Mochilão rumo ao Paraguai


Diário de Mochila

Quinta-Feira, 24 de novembro de 2016 – 3° Dia (Primeira Parte)
(17:45h)
Hoje o dia foi definitivamente inesperado! Acordei cedo, tomei café e me despedi do casal que me acolheu em Torres/RS. Em torno dás 9h, caí na estrada em direção à ponte pênsil que marca a divisa do Rio Grande do Sul com Santa Catarina, sobre o Rio Mampituba. Tirei algumas fotos, e comecei a andar em direção a BR-101, onde Gerásio havia me dito que eu encontraria um posto de fiscalização da Polícia Rodoviária Estadual, e provavelmente conseguiria uma carona. Caminhei por uns 8km até chegar no respectivo local de fiscalização, e lá, me animei ao ver que todos os caminhões com carga que passavam da divisa, paravam para pesagem. Fiquei mais ou menos 30min abordando motoristas e tentando uma carona, mas só recebi negativas e desculpas, (provavelmente por prudência dos mesmos), então, decidi seguir caminhando pela BR até encontrar um posto de gasolina onde pudesse ter melhor sorte. Depois de alguns quilômetros percorridos sob sol forte e sentindo demais o peso da mochila nas costas, fiquei sem água, e não via nem sinais de civilização. Nesse momento, parou um carro alguns metros a minha frente e o motorista me perguntou se eu precisava de uma carona. Graças a Deus! Haha



Nilton Nogueira era o motorista, morador de Praia Grande/SC, estava voltando de Torres onde havia ido surfar pela manhã. Ele trabalhava como guia nos cânions gaúchos e em trilhas daquela região, e me levou até um posto de combustível que ficava ao lado de um grande atacado na beira da rodovia. 

Que vibe incrível desse cara, que já havia visitado diversos países e também viajava como mochileiro. A estrada tem dessas, acaba colocando as pessoas certas no nosso caminho, exatamente na hora que mais precisamos!

(18h)

Em Praia Grande/SC, fui deixado em um posto de gasolina que ficava ao lado de um grande atacado. Em frente ao atacado, no estacionamento, avistei um rapaz que acabará de sair de lá de dentro, comendo um Snickers e se dirigindo ao seu carro. Abordei o mesmo, questionando se não ia em direção a Laguna, que era meu próximo destino, e o mesmo acenou positivamente com a cabeça, dizendo que ia até Criciúma/SC e poderia sem problemas me dar uma carona até lá. Ao entrar no carro e iniciar a viagem, descobri que o rapaz, com rosto de 20 anos, se tratava do competente médico Bruno Bristot, e que ele também gostava muito de viagens. Identifiquei-me muito com ele pela forma de pensar e achei a humildade em que ele me questionava sobre tudo e também falava da vida dele incrível!

Bruno me levou até um posto na entrada da cidade de Criciúma, e logo ao descer do carro, já consegui uma nova carona com um caminhoneiro que acabará de almoçar. O motorista era gaúcho, da cidade de Canoas/RS e estava levando uma carga para o norte de SC. Seu nome era Daniel De Souza, e foi uma companhia muito agradável durante o trajeto até Laguna/SC. Deu-me muitas dicas sobre como abordar os motoristas para conseguir mais facilmente uma carona, como a dica de se manter sempre apresentável e com uma roupa (na medida do possível limpa), para parecer com o estudante que eu dizia ser. Haha

Daniel me contou sobre seu trabalho, estrada, família e sobre o tempo que havia trabalhado na Petrobrás em SC. Muito gentil, me deixou na entrada da cidade de Laguna, pelas 14h, onde começaram os verdadeiros “perrengues” da viagem...


(21:30h)
Da entrada da cidade de Laguna/SC até o centro da cidade, há uma distância considerável, distância que percorri de ônibus intermunicipal, pagando R$2,90 a passagem até a rodoviária. Ao descer do ônibus, peguei a informação com um taxista de que o camping mais próximo ficava após o centro histórico da cidade, no alto do morro no qual também havia um mirante que se podia ver toda a cidade, chamado de Morro da Glória. 

O centro histórico da cidade é simplesmente incrível! Passei por diversos prédios centenários, pela igreja matriz de Santo Antônio que tinha mais de 300 anos e pela casa onde morou Anita Garibaldi, importante ícone da Revolução Farroupilha. Pegando informações com algumas pessoas, cheguei à estrada que levava ao mirante, no alto do morro. Fiz uma subida extenuante, até as portas do camping indicado, que pra minha surpresa, estava fechado e só abriria durante o mês de dezembro..


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Segui o caminho até o mirante, já que estava ali, mesmo que sem uma gota de água e encharcado de suor, e valeu muito a pena. Mesmo com a visão um pouco encoberta pela vegetação, do mirante se consegue ver grande parte da orla e cidade de laguna, e fiquei completamente apaixonado por aquela vista! No mirante também tem uma imagem de nossa senhora gigantesca e de braços abertos, onde havia algumas pessoas fazendo orações e tirando fotos. Lá de cima, dava pra ver a barra de Laguna, onde eu sabia haver outro camping próximo, pois já havia pesquisado na internet antecipadamente. 
Decidi descer novamente e seguir naquela direção até encontrar o respectivo camping.



A cada passo que eu dava, descendo a ladeira que me levaria a um bairro cheio de comércios e prédios, (que depois descobri ser o verdadeiro “centro” da cidade, chamado Praia do Mar Grosso, visto que a maioria dos comércios se localizava ali), a mochila com seus quase 20km comprimia e machucava meus ombros, enquanto a sede me torturava pelo sol escaldante de fim de novembro. Andei em torno de 1h e 30min, com passos marcados e lentos até chegar as portas do camping Molhes da Barra, e dar de cara com a placa de aviso: “abriremos somente em dezembro, na semana do evento Moto Laguna”...

Eram passadas as 18:30h da tarde, estava com fome, sede, cansado e não tinha onde passar a noite. Decidi andar em direção a praia, mesmo que quase não pudesse mais agüentar o peso da mochila e a dor na planta dos pés. Na praia, tirei a mochila, as botas de caminhada e meias, e fui molhar os pés na água gelada do mar, ainda sem saber o que fazer. A praia estava quase deserta, mas a insegurança em acampar sem proteção sem nunca ter feito isso antes me deixava receoso. Sentei ao lado da mochila, e fiquei alguns minutos vendo o mar, até que o improvável aconteceu...

Um cachorro pequeno, parecendo da raça York Shire correu na minha direção e pulou no meu colo, me dando um baita susto! Nessa hora, uma menina veio correndo para buscar ele e me pediu desculpas. Não perguntei o nome dela, apenas sorri, tamanho era o meu cansaço. Ela sentou próxima de onde eu estava, e se juntaram a ela outra menina, mais nova e um rapaz com dreads no cabelo. 

Nessa aproximação, vi uma oportunidade de conseguir algum lugar para ficar, ou ao menos alguma dica que pudesse me ajudar. Me dirigi a eles indagando se sabiam de outro camping que estivesse aberto naquele dia na cidade. Para minha surpresa, me indicaram um lugar chamado “Barulho do Mar”, que ficava muito próximo dali e que para chegar até lá eu precisaria atravessar um canal de acesso ao mar com um barco que fazia a tal travessia de pedestres. Agradeci, coloquei a mochila nas costas, já próximo de escurecer e parti rumo ao barco para mais uma expediência única! Atravessei o canal pagando o valor de “passagem” de R$1,50, e já do outro lado, segui em busca do tal Camping Barulho do Mar, citado anteriormente. Andei poucos metros e cheguei ao camping que também funcionava como restaurante, sendo atendido por uma das filhas do dono, a jovem Helena. A moça me indicou o local onde eu poderia montar minha barraca, que pela primeira vez seria armada desde que eu a havia comprado. Logo Helena e sua irmã mais nova, Laura, sentaram-se num banco próximo a mim, visto que eu era a atração no momento, por ser o único campista naquele dia em função da data fora de época, e começaram a rir de mim, pois eu não fazia a menor ideia de como montar aquela barraca! Kkk



Laura prontamente veio me ajudar e me ensinou passo a passo o sistema de montagem das varetas e lonas, assim como me deu a dica do melhor lugar para montar o acampamento em função do forte vento que poderia soprar do mar a noite. Fiz amizade com os três filhos dos donos do camping, Helena, a mais velha, tem 17 anos e cursa Direito em uma faculdade da cidade de Tubarão/RS. Laura tem 14 anos e é muito esperta e alto astral. João é o mais tímido dos três, tem cabelo cumprido e uma baita marra de surfista. Gostei muito deles e logo contei sobre a trip e minha trajetória para chegar até ali.



Muito cansado, após um merecido banho, cozinhei o melhor macarrão instantâneo da minha vida, comi e fui deitar. Minha fome era tremenda, visto que eu só havia tomado café da manhã neste dia, e ainda, caminhado mais de 20km no sol escaldante até chegar neste momento.
No final deste dia longo e louco, chego à conclusão de que as coisas que realmente importam o dinheiro não pode comprar. O esforço, dedicação e otimismo podem me levar onde eu quiser chegar! Deitado dentro da barraca, ouvindo o barulho do mar e o vento em harmonia lá fora, tenho a sensação de que ficaria a vida toda aqui. E pensar que demorei tento tempo para partir, para me permitir essa experiência de autoconhecimento. Agora entendo que a beleza dos lugares não está nos cartões postais, mas sim, nas pessoas que encontramos no caminho.
Felicidade não se encontra no destino, mas na viagem...



quarta-feira, 14 de agosto de 2019

TREKKING FERROVIA DO TRIGO – RS (Primeiro dia)



Uma das travessias mais bonitas das Américas, a Ferrovia do Trigo, se encontra no coração do Rio Grande do Sul, entre as cidades de Muçum/RS e Guaporé/RS e é percorrida inteiramente sobre os trilhos do trem, hoje ainda ativos e utilizados para transporte de carga pelo interior gaúcho. A Ferrovia do Trigo foi construída durante o governo militar, na década de 70, sendo inaugurada no ano de 1978, pelo presidente Ernesto Geisel. A obra foi um marco que impactou a economia e comércio na região, e se tornou um ícone pelo desafio topográfico que representava. Durante o trajeto entre as duas cidades citadas, são mais de 30 túneis e mais de 20 viadutos suspensos, sendo que o maior túnel tem mais de 2km de extensão, e o viaduto mais alto, o famoso “viaduto 13”, ou V13, tem 143m de altura e figura como o maior viaduto ferroviário das Américas e um dos mais altos do mundo.
Depois de muita pesquisa sobre o trajeto, vídeos e mapeamento nos prepararam para o trekking, que até então seria o mais longo e desafiador que já havíamos feito, visto que nossa maior distância até então era de 16km de Igrejinha/RS até o templo budista de Três Coroas/RS. A data foi escolhida, foi o feriado de carnaval de 2017, onde pretendíamos em três dias percorrer, de forma tranquila e sem exorbitante esforço a referida travessia. (como fomos ingênuos na parte de tranquila e sem esforço...rs)

Os parceiros de travessia, como na maioria dos projetos foram minha namorada, Carine Arnold e meu grande amigo e parceiro de loucuras, o recém ordenado Padre Leandro Scherer, que havia conseguido com um conhecido um contato na cidade de muçum, que se dispusera a nos levar até o início da trilha e buscar no final dela. No sítio desse senhor também deixamos nosso carro, assim que chegamos na cidade de muçum.
Levamos equipamentos para camping selvagem, visto que tínhamos em mente aproveitar ao máximo essa experiência de conexão com o passado e natureza. Minha mochila foi a parceira de todas as horas, Náutika Intruder 45L, Carine estava com sua Quechua respirável e o Padre estava estreando a sua Quechua Forclaz 50L, que atualmente também é a mochila que uso em minhas travessias. Dois fogareiros a álcool, utensílios de cozinha, comida para três dias, barraca (para Carine e eu) e uma rede (o padre não gosta muito de dormir em barracas...haha).

Eu (Marlon Tegner), minha namorada (Carine Arnold) e Padre (Leandro Scherer)

Sábado, 25/02/2017. (Primeiro dia de Travessia)


Saímos próximo ao meio dia de Igrejinha/RS em direção a Muçum/RS, cidade que escolhemos para iniciar o trekking. No caminho, aproveitamos muito a paisagem, visto que fomos por uma rota repleta de vinícolas e plantações de uva na região de Garibaldi/RS e Bento Gonçalves/RS, passamos por diversas tendas e pelas margens do imponente rio Taquari. Chegamos a cidade já na parte da tarde, deixamos nosso carro na casa dos nossos novos amigos e fomos deixados por eles junto aos trilhos do trem, próximo a ponte que dá acesso a cidade. Era em torno das 17h em pleno horário de verão, então sabíamos que ainda tínhamos umas 2h de luz do sol para andarmos alguns quilômetros e encontrar algum lugar para montar acampamento e começar a preparar o jantar. No estudo da região, vi pelos mapas que o rio Guaporé acompanhava a ferrovia durante todo o trajeto, de Muçum até Guaporé, logo, seria fácil achar um local para montar acampamento e pegar água as margens do rio. Triste engano... Vocês logo vão entender por que. Haha

Entrada da cidade de Muçum/RS

Depois de alguns quilômetros andados, chegamos a uma antiga estação abandonada do trem que mais parecia cenário de um filme de terror. Paredes pichadas, lixo espalhado por todos os lados, latas, plásticos de preservativos e restos de fogueira. Tiramos algumas fotos e seguimos, visto que logo escureceria e ficar ali naquele lugar sinistro não era uma opção. Haha. Após mais alguns quilômetros sobre os trilhos velhos e irregulares, e já sentindo as britas enormes machucando as solas dos pés, quando pisávamos fora dos dormentes de madeira, começando a sofrer também pelo peso das mochilas, de 13kg a 18kg que carregávamos, percebi o grande erro de planejamento que cometi, assim que chegamos a uma clareira e tivemos a primeira vista da região. De Muçum a Guaporé, os trilhos seguem um caminho em elevação, subindo a serra, e mesmo nos mapas o rio parecer estar ao lado da ferrovia, na “vida real” estava realmente ao lado, porém, com um desnível de uns 30 a 50 metros. A ferrovia seguia em cima do morro, sempre subindo, e o rio estava longe, lááááá embaixo... Que tristeza nos deu! Kkk
Estação abandonada

Seguindo em frente, tentando encontrar um acesso para o rio, cansados, não encontrávamos opção alguma de local para armar acampamento às margens dos trilhos, visto que eram muitas e muitas pedras e mata fechada impenetrável do lado direito dos trilhos. Do lado esquerdo, um barranco cheio de pedras enormes e também mata fechada, bastante perigoso de adentrar. Nessa altura, já era passado das 20h e estava quase escuro, nos forçando a ligar as lanternas. Já muito cansados e com fome, decidimos arriscar e tentar descer pela grande saliência de pedras soltas e tentar chegar a margem do rio para montar acampamento. Ligamos as lanternas reservas e em fila indiana começamos a descer. Estava muito calor, úmido e havia muitas pedras começando a se soltar, então a descida precisava ser muito atenta e devagar. Em meio às pedras, muitas aranhas armadeiras corriam e causavam um pouco de medo, pois naquela altura, ser picado por um inseto seria desastroso! 
Depois de uns 20 min de descida com muita cautela, nos vimos em meio a uma plantação de milho, e ao longe avistamos uma casa com as luzes acesas, cachorros latindo e um morado nos acompanhando com o olhar desconfiado ao longe. Resolvemos gritar e nos identificar, para evitar quaisquer tipo de problemas, como ser baleado pelo dono da propriedade. Haha. Subi em uma pequena elevação em meio ao milho e gritei: “boa noite! Estamos fazendo a travessia pela ferrovia, mas nos perdemos e estamos tentando chegar ao rio.” Ele então gritou de volta mandando seguirmos reto que chegaríamos a uma estrada, e o fizemos, chegando a estrada que corria em paralelo ao rio. Era por volta de 21h, estávamos muito cansados, com fome e quase sem água. Pela estrada, andamos mais uns 2km e avistamos um grande potreiro que terminava no rio, protegido por uma cerca baixa e um pouco deteriorada. Não pensamos duas vezes: pulamos a cerca e caminhamos em direção ao rio. Largamos as mochilas ao lado de um pequeno barranco que nos “escondia” um pouco de quem passava ao longe na estrada e dividimos as tarefas. Enquanto eu montava o acampamento, Carine buscou água no rio e começou a ferver para preparar o jantar. O padre foi procurar lenha para a fogueira, e logo estávamos sentados, descansando e jantando o melhor macarrão miojo que um mochileiro poderia comer! Hahaha.
Não havia lugar para prender a rede, então o padre optou por usar ela como cobertura tendo nossa barraca e um pequeno arbusto como base de uma “toca” improvisada. Muito roots esse rapaz! Haha. Terminamos o primeiro dia com a sensação de ter andado 100km de tão cansados, mas também com muita ansiedade em relação ao restante da travessia, sobretudo em relação aos viadutos e túneis que n

Acampamento do primeiro dia as margens do rio Guaporé

Continuação no próximo relato.


quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

Diário de Mochila - 2° dia Mochilão rumo ao Paraguai


Diário de Mochila
Quarta-Feira, 23 de novembro de 2016 – 2° Dia 

Deus age de formas misteriosas...
(15h)

Tive uma excelente noite de sono no motel, acordei pelas 8h, comi um sanduíche de queijo que havia feito na tarde anterior e levado na mochila, me despedi do Igor e caí na estrada, em direção a BR-101, de onde pretendia pegar uma carona. O caminho até a BR não é longo, trajeto de poucos KM, onde pela primeira vez pude sentir o peso da minha mochila nas costas, e sinceramente, está muito pesada! 
Em torno de 8km, que esmagaram meus ombros nesse curto trajeto. Ao ir me aproximando de um posto de gasolina as margens da rodovia, avistei uma placa que indicava o ponto turístico “Morro da Borussia”, lugar muito conhecido na região e que eu nunca havia visitado. Decidi, por impulso, ir conhecer. Estava cansado, mas ainda era cedo e eu não tinha pressa e nem hora marcada para nada. Foi a primeira vez na viagem, que senti o sabor incrível da verdadeira liberdade!


Do motel até o mirante do morro, caminhei (pelas minhas contas) em torno de uns 10km. Cheguei ao mirante, quase desmaiando, com muita sede, por ter levado e já tomado duas garrafas de água de 500ml. O peso da mochila beirava o insuportável, já que eu nunca havia carregado tanto peso, e a caminhada até o mirante foi muito íngreme e desgastante. (Minha vontade foi de me deitar no chão e passar o resto do dia jogado ali...)


No mirante, fiz amizade com o vigia, João Milton, um rapaz simpático pra caramba que me indicou onde encher as garrafas de água e me fez várias perguntas sobre a trip. Valeu muito a pena o sofrimento quando vi a vista lá de cima, onde em mais de 180°, é possível avistar diversas lagoas, o oceano atlântico, as cidades de Osório, Tramandaí, Imbé, além da vista incrível da grande usina eólica que fica na região.


O trajeto de volta ás margens da BR-101, foi tão desgastante quanto o de subida, e nos últimos metros, já ao ter avistado o posto de combustíveis que fica ali, tive o primeiro perrengue da viagem. Meu estômago começou a acusar que algo não estava bem, e urgentemente, precisei de um banheiro. Praticamente corri até o posto, e avistei o banheiro, que parecia um oásis em meio ao deserto. Ao entrar, apressado no banheiro, com a mochila gigante nas costas, mirei numa cabine vazia e adentrei a toda velocidade, pois já estavam saindo lágrimas de sofrimento dos meus olhos. Eis, que minha mochila, por ter a barraca e saco de dormir amarrada por fora, trava na porta e me faz cair um baita tombo em meio a respingos de urina, sujeira e umas manchas questionáveis... A situação que já estava péssima piorou, pois ao levantar, descobri que não iria caber eu e a minha mochila abalhotada de coisas juntos dentro do banheiro, sem que eu desamarrasse o que estava preso por fora dela, (o que não era uma opção, dada a situação de emergência. Não podendo mais aguentar, decidi perder o resto da minha dignidade; deixei a mochila pro lado de fora da cabine, baixei as calças e aliviei o que me martirizava, com a porta aberta, com um olho na mochila, e o outro nas pessoas que entravam no banheiro e me julgava com olhares reprovadores... nesse momento, descobri que viajar como mochileiro poderia me dar muitas realizações, mas glória não seria uma delas. Naquele momento, minha mente me dizia pra voltar imediatamente pro conforto da minha casa, mas algo dentro de mim, não me deixou desistir.
Saindo do banheiro, fui até um dos frentistas do posto e perguntei se ali era fácil de conseguir uma carona para Torres-RS, e tive uma assertiva como resposta. O rapaz me indicou, falar com um caminhoneiro que havia estacionado a pouco no posto, e tinha placas de Três Cachoeiras/RS no caminhão. 40 minutos depois de ter chegado ao posto, consegui minha segunda carona da viagem, e parti em direção a Terra de Areia/RS, cidade vizinha de Três Cachoeiras, cidade em que meu irmão Caio mora. Sandro Pereira era o nome do motorista que me levou, em uma viagem de menos de 1h em que conversamos sobre tudo! Ele conhecia meu irmão, que é gerente em uma filial das lojas Lebes, e me deu dicas valiosas sobre a estrada e formas de conseguir carona. Sandro me deixou na rodoviária de Areias Brancas, e gentilmente me pagou uma passagem até Três Cachoeiras, aonde cheguei pelas 14:00h e fiz uma visita surpresa pra minha cunhada Juliana e pras minhas sobrinhas, Leticia e Larissa. (Machuquei o joelho quando cheguei à rodoviária, pois ao descer do caminhão, prendi meu pé na alça da mochila e caí um tombo da escada do caminhão... será que é o destino mandando eu voltar pra casa? Rsrs)


Minha cunhada preparou um almoço especialmente pra mim, e comi como se não houvesse amanhã, tamanho o cansaço que me encontrava. Após o almoço, decidi voltar pro ponto de ônibus e seguir viagem até Torres, que era cidade vizinha já.


 (23:37h)


Ao chegar a Torres/RS, fui da rodoviária direto pra região que ficava um camping super barato, o qual eu havia visto o endereço na internet. Para minha surpresa, ao chegar ao endereço, já após ás 17h, descobri que o respectivo camping havia encerrado as atividades a anos...
Não sabendo muito bem como agir, pois não havia pensado em um “plano B”, comecei a andar em direção a praia, cogitando a hipótese de acampar pela areia. Visitei o Morro do Farol, ponto turístico da cidade, e lá, um vendedor me informou haver um camping próximo à ponte do rio Mampituba, que ficava do outro lado da cidade.


Comecei minha jornada em direção a ponte, sentindo a cada passo todo o peso da mochila esmagar meus ombros, e já perto dás 18:30h, horário de verão, passei na esquina de uma Igreja Católica, no momento em que o sino soava anunciando a proximidade da missa. Mesmo precisando achar um lugar pra ficar, e com a noite se aproximando, involuntariamente me dirigi a Igreja, sentei num dos últimos bancos e coloquei minha mochila enorme a meu lado. Ao mesmo tempo em que senti o alívio do peso tirado das costas e “folga” dada aos joelhos, me senti envergonhado por ter chamado a atenção com meu jeito de forasteiro e pela mochila em nada discreta...
Ao término da missa, fiquei um minuto sentado no banco, criei coragem e me dirigi ao padre que celebrara, e o contei sobre minha viagem, de forma clara e objetiva, e, enquanto éramos rodeados por alguns fiéis, pedi com humildade, se poderia montar minha barraca dentro do pátio da Igreja para passar a noite, já que o mesmo era cercado e me daria certa sensação de segurança. O padre pareceu ficar desconfortável com o pedido, e senti que não teria outra escolha senão dormir na rua...
Nesse momento, em que o sacerdote me olhava com olhar apreensivo/curioso, um casal que acompanhava o diálogo perguntou meu nome, e se prontificou a me deixar passar a noite na casa deles. Gerásio e Teresinha tinham uma grande casa em um terreno no qual eram dispostos vários apartamentos de aluguel, e num desses que me acomodaram para passar a noite. Foi uma atitude incrível e muito bondosa a deles, e realmente me acolheram como um amigo de longa data! Após um banho merecido, e a constatação de que meus ombros estavam inchados e muito machucados pelo peso da mochila, fui até a casa do casal para agradecer novamente a hospitalidade, e os dois, não me deixaram voltar ao apartamento sem sentar a mesa e jantar com eles. No jantar, descobri que Gerásio é um grande aventureiro também e adora viajar, porém, Teresinha era mais caseira, e gostava do conforto do lar e companhia dos filhos. Foi uma noite muito boa, em que percebi que Deus age de formas misteriosas, pois se não tivesse mudado de ideia repentinamente e entrado na Igreja, não teria conseguido hospitalidade, alimento e segurança pra passar minha segunda noite na estrada...







Diário de Mochila - 1° dia do Mochilão rumo ao Paraguai


Diário de Mochila
Terça-Feira, 22 de novembro de 2016 – 1° Dia
Existem dois tipos de viajantes:
os que viajam para fugir e os
que viajam para buscar”.
(Érico Veríssimo)
(10:15h)
Há três dias não consigo dormir direito. Pego no sono, acordo, volto a dormir, tenho algum pesadelo, acordo... Não sei se isso é nervosismo, ansiedade ou um pouco de medo (detesto essa palavra, e raramente a utilizo). Tenho andado feito um zumbi a luz do dia e meu déficit de atenção está nas alturas. Embora hoje seja o dia que irei começar minha viagem, parece que ainda não caiu a ficha da loucura que estou prestes a fazer. Minha mãe, de 10 em 10min tenta me fazer desistir de forma sutil, e creio que não o tenta com mais afinco, pois não acredita deveras que irei empreender realmente nessa jornada, afinal, sou o filho mais novo dela e nos últimos anos ficamos muito ligados por trabalharmos juntos todos os dias.
Meu pai é meu maior exemplo de aventureiro, por tantas histórias que vivenciou e me contou, desde sua vida no campo até quando ainda muito jovem foi morar na cidade em busca do seu próprio sustento. Minha namorada há alguns dias está se martirizando por dentro por ter de me deixar partir sozinho, creio que é um misto de preocupação, ciúmes e saudades antecipada. O importante, é que mesmo não demonstrando, sei que todos me apóiam e estão torcendo por mim.
Minha mãe, ao sair pro trabalho junto com meu pai, pela manhã, veio no meu quarto e me pediu pra “fechar bem as janelas da casa”, creio que numa última esperança de me ver ao voltar pra casa no final do dia. A verdade, é que nem eu, naquela hora da manhã, tinha total certeza se embarcaria nessa aventura, que seria até então, a maior da minha vida.
Vou partir com minha mochila, (Náutika Intruder 45L), abarrotada de coisas que julgo úteis para a viagem e R$160,00 no bolso para cruzar os três estados da região sul e visitar as Cataratas do Iguaçu, juntamente com o Paraguai. Sabendo de forma antecipada dos custos para o passeio nas Cataratas, praticamente vou viajar sem dinheiro, pois preciso da maior parte dessa grana pra adentrar na atração paranaense. Não levarei dinheiro reserva. Não levarei cartão de débito ou crédito. Nunca peguei uma carona na vida. Nunca acampei ou armei uma barraca na vida. Nunca viajei sozinho. Será uma viagem difícil e de muito aprendizado, onde peço a Deus, que tudo corra bem.
(21:30h)
No fim da tarde, após ter pegado um ônibus até a cidade vizinha, Taquara/RS, um grande amigo que já havia se disponibilizado previamente para tal, me deu uma carona de Taquara até Osório, no litoral norte gaucho. Trata-se de um colega do curso de Direito, o empresário Igor Nascimento, dono de um famoso motel na cidade de Osório. O local está com um dos quartos em reforma, e Igor disponibilizou o mesmo para que eu passe a noite, visto que já estava escuro quando chegamos ao lugar.
(22:57h)
Comi duas barrinhas de Club Social que trouxe junto, duas bananas e também tomei um Gatorade, (estava muito quente), pois não posso correr o risco de desidratar e passar mal na viagem. Estou muito ansioso pra colocar o pé na estrada em direção a Torres/RS amanhã e espero finalmente ter uma boa noite de sono hoje à noite.

Foto antes de dormir, no quarto em reforma do Motel




Diário de Mochila - 13 dias de carona e sem dinheiro do Rio Grande do Sul ao Paraguai


Em 2016 embarquei numa das maiores aventuras da minha vida, um mochilão pelos estados do Sul do Brasil, com destino as Cataratas do Iguaçu e ao Paraguai, somente de carona e com pouquíssimo dinheiro no bolso, sem nunca antes ter pego uma carona, acampado ou feito qualquer tipo de viagem sozinho.
Por dois meses me “preparei”, comprei equipamentos pela internet, (equipamentos errados, só por que eram baratos...kkk), pesquisei sobre os lugares que iria passar e também dicas de como me locomover e conseguir comida pelo caminho. Mal sabia eu, que essa viagem ia mudar completamente a minha vida...
Durante 13 dias de estrada, escrevi o que apelidei de “Diário de Mochila”, reportando todas as situações que passei na estrada, pessoas que conheci e me ajudaram na jornada, minha rotina diária e também as formas em que lidava com cada perrengue que me deparava.
Nos próximos dias, irei postar os treze dias de viagem, um de cada vez, juntamente com a data correspondente e fotos do dia respectivo. Vem viajar comigo, nessas lembranças, que irão te inspirar e me inspirar pra próxima aventura que estou planejando pra esse ano de 2019... (e vai ser muito mais desafiadora/difícil/incrível ainda).


quinta-feira, 27 de julho de 2017

Cânion Fortaleza: trekking, liberdade e aventura em Cambará do Sul


Cambará do Sul, município gaúcho com pouco mais de 6 mil habitantes, abriga os mais imponentes cânions do sul do Brasil, presenteando com uma beleza estonteante os visitantes de todas as partes do país e do mundo que os visitam anualmente. Desde bem pequeno, tinha o desejo de conhecer essas obras de arte da mãe natureza, que tanto atraía turistas para o estado mais ao sul do Brasil, e foi após assistir a uma excelente reportagem no Jornal do Almoço (RBS TV) sobre as belezas do Parque Nacional da Serra Geral, que decidi que era chegada minha vez.

No último domingo de junho de 2016, passados dois dias do aniversário da minha namorada Carine, resolvi que iríamos comemorar, fazendo pela primeira vez um Trekking no respectivo parque. Pesquisei muito durante a semana algumas dicas de como chegar ao parque, qual o melhor horário e também sobre as trilhas que faríamos, já que pretendia fazer tudo sem guia. Optei em focar o dia no Cânion Fortaleza e em duas trilhas que eram próximas ao mesmo, a da Cachoeira do Tigre Preto e a trilha da Pedra do Segredo, muito indicadas em fóruns de mochileiros.  Chegado o respectivo dia, saímos pontualmente as 5:30h da manhã de Igrejinha, ansiosos pelo dia que nos esperava e muito abastecidos de água, comidas leves e muitos casacos de inverno!

Cânion Fortaleza 

Ao chegarmos ao pequeno centro de Cambará, parecia que éramos os únicos seres humanos a estar de pé ás 7h da manhã naquele domingo de inverno. Galos cantavam ao fundo, o sol nascia no horizonte e nós, por uns 15 minutos, ficamos inertes com o carro estacionado em frente a um campo de futebol, na rua de entrada da cidade apreciando uma deliciosa caneca de chá de camomila quente.  De volta à estrada, dirigi por alguns quilômetros por uma estrada asfaltada repleta de placas alertando para que se tivesse cuidado com animais nativos e desviando de alguns buracos e imperfeições na pista, que antecipavam o calvário que estava por vir. Ao final do asfalto, chegamos à pior parte do trajeto: pouco mais de 3km de estrada de pedra. (sim, pedra, pois chamar de estrada de chão batido é um grande eufemismo para o acesso de ligação ao parque). Após quilômetros percorridos na velocidade máxima de 10km/h, que faziam-me ter pena da minha pobre Fiat Strada, chegamos a porteira de acesso, onde encontramos um pequeno banheiro e uma casinha simples, lugar em que provavelmente o responsável pela manutenção do parque ficava. Paramos ali por alguns minutos para usar o banheiro e logo continuamos na estradinha por mais alguns minutos.
Chegamos ao estacionamento as 8:15h e tínhamos aquela imensidão só pra nós. Senti uma sensação estranha de liberdade que não recordava ter sentido em outra ocasião.

Somente nosso carro, nossas canecas de chá fumegante e um imenso silêncio...

     Estacionamento

Postas nossas mochilas nas costas com quitutes, água em quantidade abundante, isotônicos, toalhas, mais comida, mais uma térmica de chá, muitos casacos e até pares de meias extras, e nos colocamos em marcha rumo a bordado cânion. (lembrando que o excesso de bagagem foi em função de estar fazendo meu primeiro trekking, em um lugar que nunca havia estado e sem guia, logo, tentei usar dicas até de gente que subiu o Everest pra estar preparado pra tudo...)
Ps:. Isso que esqueci meu spray anti-urso em casa, se não, era mais peso na mochila...haha
Poucos metros após o estacionamento e chegamos à borda do cânion. Confesso que foi um misto de medo, adrenalina e fascinação ao ver aquelas imensas crateras de mais de 2km se abrindo em direção ao horizonte e com visibilidade total, já que não havia nenhuma neblina no dia. O cenário que já inspirou novelas e documentários realmente é incrível! Tiradas algumas fotos, em que eu não conseguia chegar nem a 5 metros da borda pelo medo de altura, começamos a caminhada indo no sentido oposto ao mirante do cânion. Andamos mais de dois quilômetros, e logo começamos a avistar diversos ônibus e carros de turistas que começavam a chegar para a visitação dominical.


Cratera Cânion Fortaleza

Era próximo das 11h quando começamos a subida da trilha do mirante, que do estacionamento ao cume, leva cerca de 35min, de uma subida razoavelmente tranqüila. No topo do mirante, conseguimos ter uma visão de quase 100% do cânion, tornando a experiência ainda mais fantástica. Ao longe, avista-se o mar, algumas lagoas e também a cidade litorânea de Torres-RS.


Cânion Fortaleza

De volta ao estacionamento, nos dirigimos ao ponto de entrada para a trilha que levava a Cachoeira do Tigre Preto e a Pedra do Segredo. O início dessa trilha fica a mais ou menos no meio do caminho, entre o estacionamento do parque e a porteira de entrada, onde há um recuo para que possam ser estacionados carros e uma pequena placa indicativa.
Iniciada a trilha, anda-se em torno de 10 minutos até se chegar ao riacho que forma as quedas d água da cachoeira. Atravessamos o riacho sem nos molhar para a outra margem, próxima a borda da cachoeira, devido a pouca vazão de água no dia. Logo ao chegar à outra margem, já conseguimos ver a cachoeira com duas enormes quedas e tirar algumas fotos bem próximos a elas. Andando mais um pouco, chegamos a um mirante, onde conseguimos ver de forma privilegiada as quedas, que lembram às garras de um felino formando a cachoeira.

Cachoeira do Tigre Preto

Turistas passando sobre a Cachoeira do Tigre Preto

Não longe dali, chegamos ao mirante da Pedra do Segredo, uma enorme pedra que pesa toneladas e misteriosamente está equilibrada em cima de outra rocha em apenas 50cm de base de apoio entre elas. (confesso que não achei grande coisa...haha).  Nesse ponto, encontramos um bom lugar onde pudemos apreciar a vista de parte do cânion, e preparamos nosso almoço, pois já eram 13:45h da tarde. Dois Cup Noodles de legumes e algumas bananas. (valeu a pena ter levado uma térmica de água fervendo também...haha).

Pedra do Segredo

Pelas 15h, retornamos ao estacionamento e iniciamos o caminho de volta. Paramos uma última vez em frente à Igreja que fica no centro, e sentamos um pouco na praça deserta da cidade, que parecia funcionar em um ritmo diferente das que estamos acostumados na região metropolitana. Um ritmo sem pressa, contemplativo e interiorano, de uma forma que me fez ter muita inveja dos 6 mil habitantes que vivem diariamente ali...





Passagem acima da Cachoeira do Tigre Preto











quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Trekking no Morro Agudo - Gramado/RS

O Morro Agudo, em Gramado/RS, com seus mais de 850 metros de altura é uma das figuras naturais mais icônicas da cidade mais famosa da serra gaucha. O que sempre me atraiu nessa montanha foi o pouco conhecimento que se tem sobre ela e o pouco número de turistas que lhe visitam. Isso se dá, talvez pelo difícil acesso ao seu cume, que é alcançado somente por trilhas em mata fechada e ingrime pelo lado oeste ou por escalada pelo lado leste.


























(Crédito da foto: http://amigosdotrekking.blogspot.com.br)

Planejamos durante uma semana o trekking, e nesse tempo, tentei encontrar dicas através da internet, blogs e também pedindo ajuda para alguns amigos que já fizeram essa travessia, mas não obtive resultados satisfatórios. Decidi, mesmo com muitas dúvidas, me preparar bem e tentar mesmo assim.
Pra jornada, contei com a companhia da minha namorada e fiel escudeira, Carine Arnold, e também com a companhia do meu irmão Jonatas Silva e cunhada Scheila Engelmann. Minha namorada levou sua mochila recém comprada para testar na subida, uma Forclaz Air 40L, da marca Quechua, e eu levei a minha grande companheira de viagens e trilhas, mochila Nautika Intruder 45L. De mantimentos e equipamentos, levei: uma corda de 20m, 2 cordões de 5m cada, uma lanterna, uma faca de camping, um canivete, sacos de lixo, um colchonete dobrável, uma esteira dobrável (que depois serviu de proteção contra o sol no pico da morro), algumas frutas, um pacote de seven boys(pães), um pote de Nutella (coisa da minha namorada...haha), 2 pacotes de Passatempo, uma bacia com sanduiches, uma térmica de café e 2L de água. 

Mochila Nautika Intruder 45L

 Chegado o domingo 29/01/2017, dia combinado para a trip, partimos ás 7:30h da manhã de Igrejinha/RS, (cidade onde moro) em direção a Gramado/RS pela RS 115. Desviamos o pedágio na rótula que fica em frente a praça, em Três Coroas, pegando a esquerda e seguindo por uns 200m, e depois seguindo a direita por uns 3km até a rodovia novamente. Ao passar o pórtico de entrada em Gramado, a uns 100m, entramos a esquerda, no bairro Várzea Grande, e ali seguimos as placas indicativas. Ao seguir na direção que indicava o Morro Agudo, pelas placas, chegamos em uma bifurcação, onde poderíamos seguir a direita ou a esquerda, então, decidi seguir a direita, e pegamos o caminho errado...haha. Fomos perceber o erro, depois de andados aproximadamente 10Km, que eram somente de descida da serra em direção a Três Coroas, o que não fazia o menor sentido. (faz parte, né?  haha)
De volta ao caminho certo, pedimos umas três ou quatro vezes informações sobre o caminho a seguir para chegar ao pico, e muitos não sabiam bem como nos dar essas explicações, pois mesmo morando naquela localidade que fica próxima a nosso destino, nunca haviam ido até lá.
Por volta das 9:30h, chegamos a estrada que dava acesso ao morro, que para bem se localizar, fica  próxima a uma igrejinha muito simpática. Foi ali perto que conseguimos informações sobre como chegar ao pé do morro. Já na estrada que era próxima a subida, estacionamos nossos carros ao lado de  uma casa que tinha um galpão grande na frente e que o morador estava fazendo alguns serviços por ali. Conversamos um pouco com ele, e pegamos a informação que o início da trilha era ao lado de um galpão bem antigo no final daquela rua, (informação essa, que não era correta...), assim, tomamos nosso café da manhã junto aos carros, e logo depois partimos em caminhada, sem saber o que nos esperava, e sobretudo, qual distância nos esperava...hehe
Da esq. para a dir. minha namorada  Carine, meu irmão Jonatas, Eu (Marlon) e minha cunhada Scheila

Caminhamos 1km e meio mais ou menos até chegarmos ao galpão antigo, citado pelo homenzinho que nos deu a informação, dali, partimos em uma trilha bem definida, onde deveriam passar máquinas agrícolas ou Jipes, por alguns quilômetros, em que nos divertimos e conversamos bastante, realmente aproveitando o momento. Logo chegamos a uma clareira de onde dava pra se ver muito bem o Morro Agudo, e ali, tivemos uma certeza: novamente estávamos no caminho errado!  haha. a parte do morro que dava para ver era a do paredão de pedras, que somente podia ser acessada por escalada, enquanto nós buscávamos uma trilha que nos levasse até o pico...
voltamos meio cabisbaixos até o ponto onde passamos pelo galpão antigo novamente, e avistamos uma casa próxima, onde fomos outra vez atrás de informações. Com novas pistas, descobrimos que a trilha para o topo do morro, começava ao lado de uma casa grande e branca, que se localizava bem próximo de onde mais cedo, deixamos os carros...
Chegando a casa, não havia sinal de trilha algum! Somente muita lenha empilhada e um pouco de mata queimada, provavelmente estavam preparando a terra para futuras plantações. Ao olhar em direção ao Agudo, só se via mato fechado, o que a essa altura era desanimador. Tão desanimador, que já 11:30h da manhã, meu irmão e cunhada decidiram abandonar a missão, pois haviam deixado sua filha pequena com uma parente e não acharam que voltariam tão tarde...Logo, restaram somente "Bonnie e Clayde" para completar a aventura. haha
momento em que nossos parceiros "pularam da barca" haha

Como desistir não era uma opção, ainda era cedo e minha namorada estava com muita disposição, entramos mata adentro só nós dois em busca do pico da montanha, feito os primeiros colonizadores italianos que desbravaram e conquistaram a região serrana uma centena de anos atrás. 50m andados, e achamos a primeira clareira, onde pudemos traçar uma estratégia, já que não víamos trilha, iriamos subir buscando sempre andar em linha reta para não nos desviarmos do local onde entramos na mata e ser mais fácil de retornar.
Local onde entramos na mata. Seguindo daqui em linha reta, se chega ao pico do Agudo

A subida, acredito que pelo ritmo que estávamos impondo, foi bastante extenuante. Andados 30 min. em uma mata bastante fechada, encontramos traços da trilha que deveria ser a original, mas que pelas condições climáticas e pela pouca utilização, estava encoberta por mato. 
Esse trajeto deve ser percorrido com bastante cuidado, pois o terreno é bastante ingrime e escorregadio. Uma queda em determinados lugares pode ocasionar um ferimento considerável, ainda mais com uma mochila nas costas. É preciso muita atenção também se forem fazer esta trilha no calor, pois a região é conhecida por abrigar muitas cobras.

Com mais ou menos 50min de caminhada, chegamos ao último obstáculo da subida: uma parede de pedras de mais ou menos 3 metros de altura, que devido as chuvas frequentes nessa época do ano, havia deslizado a terra que lhe dava cobertura, tornando bem difícil a subida. Nesse ponto aproveitei a corda que havia levado, subi com cuidado e amarrei em uma raiz alta, facilitando e tornando mais segura nossa subida com as mochilas pesadas.

Chegando ao topo, a primeira coisa que avistei foi uma cruz, que parecia estar a muito tempo ali. O topo estava repleto de mato fechado, mas uma saída que dava acesso as bordas do paredão de pedras, me deu uma visão de tirar o fôlego! Toda vez que chego ao topo de um lugar alto, me sinto tão alto quanto aquele lugar. Embora tenha muito medo de altura, tenho fascinação por lugares altos, sobretudo, montanhas. Ficar alguns minutos ali sentado, olhando pro vale verde que se perdia no horizonte, fez cada passo da caminhada valer a pena. VALER MUITO A PENA!

Aproveitamos a brisa refrescante que soprava para montar um "mini acampamento" e almoçarmos. Fiz uma proteção contra o sol, e nos sentamos para ouvir "as vozes do silêncio", que tanto nos fazem falta num dia a dia corrido entre trânsito, trabalho, faculdade, etc...

Essa foi mais uma travessia que me esgotou fisicamente e renovou mentalmente. Sempre que tenho a oportunidade de ter esse contato com a natureza, me pergunto se realmente preciso de tanta coisa quanto acho que preciso ter.

 Que mais momentos e dias assim venham pela frente!

Marlon Tegner

Mais fotos do trekking: